sexta-feira, 24 de abril de 2009

Verdades e mentiras na publicidade

Há pouco discutimos a fundo dois fatos históricos que provocam a percepção que propaganda é uma condutora de ideologias. As disposições ideológicas são constantemente jorradas em qualquer anúncio. Quando expomos que a publicidade é uma ideologia, podemos dizer que a mesma promove uma cadeia de pensamentos, modificando situações, construindo anseios e criando influências coletivas que podem até se tornar culturais. Por isso a publicidade é um dínamo ideológico. De fato não seguindo em verossímil a acepção da palavra "ideologia", que é um sistema de idéias, porém esta conjuntura é similar ao "bum" da publicidade quando promove situações evolutivas com o seu poder incomensurável de influência na massa.
A ideologia traz valores que podem ou não ser adaptados às "ideologias políticas" existentes na publicidade. Após ser compreendida dessa maneira, a ideologia vai desatrelar-se do conceito tradicional e marxista de pura ideologia burguesa. A ideologia passa a ser então analisada não como uma ocultação segmentada, mas sim, como um fator indispensável para a comoção de uma sociedade, esta que anseia por evolução comunicativa em todos os valores de retórica, como: falar, escutar e sentir para assim, influenciar com estes outros indivíduos.
Em todas as mensagens, à priori, permanentemente a ideologia é utilizada como um fator de comoção para se ter como respaldo a fidelidade, e o conflagro da adesão a um produto para qualquer alvo de objetivo, para o mesmo parecer diferente e no mais indispensável para o consumo próprio.
A presença ideológica na publicidade, e em qualquer "órbita" é sempre uma forma de sapiência e segurança completa. Logo, a busca pela evolução comportamental, a forma de codificar mensagens para que elas provoquem a busca pela interpretação, e de se ter como respaldo a mudança de atitudes e aderência de novas influências, são motivos suficientes para que a comunicação de mercado seja uma propulsora ideológica de fato.
Através da ideologia são montados imaginários e uma logística de identificação social, com a função precisa de escamotear os conflitos, dissimular a dominação e ocultar a presença do particular, dando-lhe a aparência de universal. (Chauí, 1993, p.21).
Neste sentido, a publicidade faz a ideologia ser um instrumento indispensável e poderoso na busca da unificação social, por propagar a ausência da crise permanente a facetando como: momentânea e ocasional.
Para Carvalho (ibidem), "a maior tarefa ideológica da publicidade é a construção da imagem do produto", ou seja, são os significados que ela passa por de traz do visto popular. Como por exemplo, no engarrafamento da Coca-cola com o formato de um corpo feminino; Propagandas quando mostram uma mulher lavando roupa com um sabão qualquer, (isto é, elas estão condicionadas a fazer as atividades domésticas, até quando a mídia ditar também outro afazer); Na páscoa que estamos resolutos a comprar chocolates; No natal todos têm que comprar presentes uns para os outros por causa do papai noel, (que por acaso foi construído pela própria Coca-cola, possuidor das mesmas cores do rótulo, vermelho e branco) etc. São muitos os casos que poderíamos fazer um livro inteiro só para contar os verdadeiros efeitos da publicidade na cadeia ideológica.
Esse controle é efetivamente construído na vida de cada indivíduo, tendo em vista a consolidação de uma imagem estereotipada e principalmente das relações humanas. Com insistência os modelos comportamentais e padrões estabelecidos pelo sistema vigente que são repassados a toda sociedade, e tão logo aderem não coercitivamente, mas sim, por serem levados pela percepção e a busca de mudanças pelo histórico evolutivo social.
A verdade construída na publicidade
A mentira é a ausência total e deflagrada dos fatos na incessante busca pelo convencimento da retórica.
A mentira só existe para fecundar a verdade. Seríamos ignóbeis ao dizermos que dela ninguém se prevalece fazendo uso-fruto. Por outro lado em análise de verdades estruturadas, como podemos aderir a esta verdade de que o certo não é oerrado, o falso não é o verdadeiro, o belo não é o feio? Ou seja, tudo já foi estereotipado, sem ao menos nos consultarem antes.
Muitas vezes se utiliza ocultações e até mesmo omissões na publicidade, porém, a mentira de nenhuma forma deve renascer na comunicação mercadológica. Pelo fato da existência dos padrões éticos e de seu poder de convencimento, que facilmente é capaz de fazer uma mentira transcender verdade, e de deixar transparecer o feio como bonito apenas pela omissão sem precisar ser falso.
A garota propaganda da Coca-Cola há algum tempo atrás era uma gordinha, algo que fugia dos padrões de beleza da época existente, porém a propaganda corroeu esse dogma, formulando que os gordinhos também podiam ser belos, após dois anos de intensa campanha publicitária da Coca e a garota robusta como protagonista, os homens começaram a percebê-las com novos olhos. A publicização midiática construiu novos valores sociais contrários aos antigos preceitos.
Da mesma forma, se um inimigo assaltante cometeu um assassinato, isto será divulgado, e causará incômodo e fúria nos receptores da informação. Isto reforçará na população amiga a convicção de está travando um combate justo e heróico contra tal atitude daquele ser. Agora imaginem o contrário, se o latrocínio fosse cometido pelos próprios aliados, e de elevados padrões aquisitivos, como este seria percebido? Veja, muitos diriam "será que é verdade mesmo? Eu não acredito muito nessa estória" Isso é, se fosse propagado pela mídia. Agora pesem mais adiante, um fato que tomou conta de toda uma história geopolítica mundial. No dia 11 de setembro de 2001, ocorreram os atentados "terroristas" nos EUA, todos nós sabemos que este país é uma nação imperialista e suas ordens têm de que ser confirmadas e aceitas em omissão, caso não, proclama-se peleja de combate ao "inimigo". Inimigo! Palavra chave para quem combate o bem, que bem? Palavra que a mídia jornalística ocidental desde 2001, sempre adentra ao atacar a oposição aos anglos saxônios americanos. É, são os "inimigos do mundo", quem disse que são os meus inimigos? Quem foi que disse que são eles (afeganistão, iraquianos, iranianos), os terroristas? Será que não foi uma impiedosa campanha de comunicação a qual implantou esses valores do bem e do mau e você deu crédito? Você foi persuadido? Será que já parou pra pensar nisto? Ou será que este é o certo mesmo e ponto final?Casos como este, dão indagações que transcendem essas linhas. Porque aceito tudo que me impõem na mídia? Na publicidade midiática você tem todo o direito de discordar dos argumentos, porém, dos fatos não. Passamos apenas informações, obviamente de teor persuasivo sim, porém antes e acima de tudo, informação! Vai dos receptores ser benévolo ou não. Perceba o quadro a seguir:
Percebam a comunicação jornalística tendo argumentos parciais! Não parece estranho para o que foi fundamentado com o "simplifico" objetivo de apenas colher fatos, e em sua acepção repassá-los a sociedade?
"Terroristas atentam a paz no mundo", se você for analisar em silogismo estrutural esta elocução, perceberá que é uma disposição altamente crítica e julgadora. Os "terroristas" atentaram somente aos EUA, não ao Brasil, Argentina, não a Letônia, nem a Lituânia nem a Estônea, nem a nenhum outro além dos "EUA". A! Tudo bem me esqueci por um leve desvanecer; a mídia interpela que os EUA é o mundo todo; a priori, o mundo é quem faz parte dos Estados Unidos! Agora sim. Mas pra mim não! E pior, se abespinharam da paz no mundo, como se ela fosse um fantoche, pode até ser um fantoche sim, porém esse ainda tem pernas e cérebro, coisa que muitos birutas, ou melhor, "W.Bobocas da vida" não têm, e além do mais esse fantoche sabe muito bem o que quer e o que deixa de querer!
Verdade construída na publicidade
A publicisação midiática não passa de ser o resultado da publicidade. Qualquer notícia ou amostra ideológica possuidora de teor informativo que é aceita pela sociedade, rapidamente passa a ser "consumida" pelos expectadores. Neste momento ela consolida um lugar muito forte na audiência por ser rentável e lucrativa.
A verdade na publicidade eticamente é uma constante, porém esta não pode ser "nua e crua", deve ser levemente "maquiada" e possuir valores para que a imagem seja "consumível" e aceita pelo mercado. Por isso não se pode falar de publicidade sem ressaltar a publicisação midiática. Ao recorremos para esta verdade, estamos construindo valores de brilho e altivez a um simples produto, porém, o que antes parecia ser pueril, passa a ser algo complexo e de fundamental importância para os receptores daquela mensagem. Entretanto as informações são todas de conteúdo real, o que muda é a forma de expressão da realidade, dando "vida" a algo que parecia não ter.

Análise de produto:
Pense comigo, você é um rapaz estudante de publicidade e propaganda. Na faculdade há uma menina (referencial), você nunca se sentiu atraído por ela, se vestia mal e não tinha uma postura adequada, pelo menos para os seus parâmetros de aceitação de conduta. Porém um dia você a vê bem vestida, falando bem, tendo uma postura de uma verdadeira "Lady", e os seus colegas começam a comentar sobre ela para você: "Nossa! Que gata, ela é uma deusa...", logo no intervalo você a ver rodeada de rapazes bem afeiçoados. Então você curiosamente você começa a pensar que não era ela que não era bonita, apenas, seus olhos que não enxergavam tamanha beleza.
Isso não passa de ser um resultado da cadeia de publicisação midiática.
O estudante: consumidor, Público-alvo,Target
Faculdade: "PDV do produto"
Menina: produto
Vestia mal, postura inadequada: ela não era feia, mas sim, não passava uma boa imagem para o público de recepção.
Colegas: consumidores concorrentes e ao mesmo tempo mercado-alvo
Comentar sobre ela: propaganda boca a boca, feedback
Nossa ela é uma deusa: comentário positivo, chave para a satisfação e fidelização ao produto.
Eram seus olhos....: Você se culpa por antes não ter conhecido tal "produto", mas na próxima oportunidade não vai deixá-lo escapar.
Um ponto muito importante desta situação, até muito comum, é quando no intervalo "você" vê os rapazes de boa aparência cercando-a, essa é a hora que o feedback é positivo, os"consumidores" aderiram ao "produto" e este produto está muito cobiçado, isso faz intuitivamente pensar "se todo mundo quer, eu tenho que querer e ter, antes de todo mundo".
bonita?
Ela não estava cobiçada?
Então! O respaldo foi consumado. A publicidade age da melhor forma para que a situação, seja a conquista da persuasão.
Não basta dizer a verdade para ser acreditado, a verdade deve ser mitificada para se ter brilho e altivez, gerando assim, demanda de consumo, no entanto, para o público de recepção ela não deve perder a sua verossimilhança de verdade "nua e crua".
Durante a campanha da Itália na segunda guerra mundial, os americanos e ingleses lançaram folhetos para incitar os soldados inimigos a se render. Um desses folhetos mostrava a vida confortável e branda que levavam os prisioneiros da guerra na Inglaterra, no Canadá e nos Estados Unidos. Neste folheto via-se um campo de prisioneiros instalado num antigo hotel, com sofás e poltronas, alguns prisioneiros se divertindo jogando bilhar e outros ouvindo rádio, etc... É verdade segundo M.F. Herz (in D. Lemer, 1951) a quem tomamos emprestado este exemplo, os Norte-americanos tratavam bem seus prisioneiros servindo café ovos e pão. Este anúncio surtiu efeito positivo no mundo inteiro. A verdade construída dá muito mais respaldo do que qualquer verdade pura que se pretenda atingir.
A propaganda dos aliados alterou completamente a orientação e mandou imprimir outros com o título "não é divertido ser prisioneiro", porém, o contexto deste segundo folheto levava a reflexão de que antes ser prisioneiro do que um herói morto em combate.

FONTE
Livro O Almanaque do Publicitário
CAPÍTULO VI
AUTOR
João Paulo Cavalléro de Freitas

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